Neste fluxo de mudanças segue-se a Revolução Industrial, que causa profundas modificações na estrutura da família, tirando o homem da casa (ou de sua oficina artesanal que em geral ficava anexa à casa) e impelido-o a jornadas de trabalho de 8, 10 e até 12 horas.
Alguns filósofos chegaram a considerar a idade de ouro da civilização, onde o ser humano não necessitaria mais de apegar-se às “fantasias” de um Deus para vencer o medo da morte, porque a ciência e o avanço tecnológico logo trariam todas as respostas esperadas.
Todavia as duas Grandes Guerras do século XX trouxeram um espírito de frustração na ciência e na humanidade. Toda a tecnologia desenvolvida até então passa a ser utilizada para a destruição em massa e muros separam mais os povos que os oceanos. Alguns pensadores modernos acreditam que aí se encerra a Idade Moderna e se inicia o Pós-modernismo, com suas conseqüentes influências para o ser humano e para a família.
Naturalmente a primeira e maior destas conseqüências foi a desilusão da aproximação dos habitantes do planeta através do avanço tecnológico e científico. A ciência mesma passa a ser revista em seu modelo mecaniscista e irrompe um novo paradigma no qual o ser humano é considerado parte de um sistema em complexa interação.
Resultado desta desilusão foi o incremento do individualismo. Hoje vemos as pessoas buscando iniciar uma família, não tanto para criar vínculos significativos e duradouros, mas para extrair do relacionamento os benefícios pessoais enquanto for possível. Assim as pessoas casam não com a idéia de doar-se ao cônjuge, ou de amar incondicionalmente a ponto de entregar a própria vida pelo outro, como sugere o apóstolo Paulo em Efésios 5: 25. Antes casamento virou sinônimo de um contrato comercial onde as partes se comprometem a manterem o negócio enquanto ambos estiverem tirando nítidas vantagens pessoais do mesmo. Caso contrário o divórcio fácil e a busca de novas opções de mercado são sempre soluções rapidamente buscadas.
Outro resultado desastroso desta desilusão foi a entrega ao Estado de muitas das funções que eram pertinentes ao contexto exclusivo da família. O casamento, a educação dos filhos, o cuidado com a saúde, com os idosos, etc., passam do domínio do particular para o público e tem as seqüelas que todos estamos sofrendo. O casamento civil no Brasil, por exemplo, só inicia com a República e depois disto o Estado se outorga o direito de legislar sobre como devem ser os casamentos, quem pode se considerar casado ou não e como e quando se pode romper o casamento. Nem sempre foi assim! Historicamente o casamento era um cerimônia familiar, celebrada pelos pais dos nubentes e os respectivos convidados, dentro das casas, com um cortejo que se iniciava na casa do noivo e seguia até a casa da noiva, em vários dias de celebração (Mateus 25).
Na Idade Média este cortejo passava defronte ao templo e ali recebia a benção do sacerdote e posteriormente foi trazido para dentro do templo (mantendo-se a festa fora do mesmo – em períodos que variavam de acordo com as posses dos pais, de vários bois até uma simples ovelha). Hoje os casamentos ocorrem no cartório e o boi se reduziu, muitas vezes, a um pedaço de bolo e o tempo da festa a algumas horas. Ou ainda, na nova legislação, sem cerimônia nenhuma, pois após cinco anos de convivência sob o mesmo teto, o Estado reconhece este relacionamento como família!
A ingerência do Estado no processo de educação dos filhos aparece desde as formas mais sutis, como na determinação dos conteúdos programáticos das escolas, que vem prontos e que muitas vezes incluem transmissão de valores. Veja por exemplo os programas de educação sexual das escolas que são dados nas aulas de biologia e que tratam o assunto como uma função exclusivamente biológica do ser humano, rebaixando ao plano mais inferior de dignidade algo tão belo que o Criador nos dotou. Mais preocupante é e ingerência do estado no processo educacional interno das famílias. Em nome da defesa do menor, muitos pais são coibidos de disciplinarem seus filhos, que aproveitam-se da situação para criarem verdadeiras ditaduras infantis. Para quem duvida disto passe algumas horas observando pais com filhos nos supermercados e como os filhos impõe, diante de pais que se mostram impotentes, seus caprichos.
Não desconheço que em muitos lares tem havido abusos de autoridade por parte dos pais, que acabam violentando seus filhos, em nome da disciplina. Entretanto coibir a violência gerando outra violência (condenar os pais a serem escravos dos caprichos dos filhos) é igualmente errôneo. Vários são os relatos que me chegam ao consultório de vizinhos que denunciam seus condôminos quando são perturbados em seu sono pelo choro de uma criança e que muitas vezes não passa de uma cólica ou dor de ouvido – mas os pais passam pelo constrangimento de ter que prestar esclarecimentos e fazer exames de corpo delito a conselhos tutelares, numa clara evidência que “são culpados até que provem o contrário”, maior preceito ANTI-democrático numa sociedade que se arvora JUSTA!
Sem falar na seqüela a longo prazo de crianças que crescem sem limites e que se tornarão adultos perversos!
Finalmente o pós-modernismo elevou ao máximo a relativização dos valores, centrando no indivíduo e na busca hedonista do prazer a definição do certo ou errado. Não mais a família, mas a mídia é quem define o que é certo ou errado e isso sempre tendo como referencial o que lhe causa prazer ou não. Fazer sexo com o maior número de parceiros lhe causa prazer, então é certo, diz a mídia e o errado é o ‘arcaico’ compromisso matrimonial – ‘nova mentalidade’, ‘cabeça aberta’, ‘casamentos abertos’, compromissos transitórios, são resultados desta relativização dos valores. Aliás, o único absoluto é que tudo deve ser relativizado.
Todos estes processos têm como resultado uma sociedade mais violenta, mais isolada e cada vez mais com condutas definidas pelo fisiológico, o que nos torna mais semelhantes aos animais inferiores. Este é um espaço fecundo para a propagação do Evangelho da graça, de valores autênticos que preenchem o sentido do existir e do amor autêntico que se doa em função do bem-estar do outro.
Creio que é o momento das famílias cristãs revelarem o modelo de saúde emocional vivenciado a partir dos valores do Evangelho e serem uma contra-cultura num mundo pós-moderno, desiludido e cada vez mais caótico.
Carlos "Catito" Grzybowski*
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